Celebramos hoje, os agostinianos de São José do Rio Preto, unidos a toda a Igreja e, especialmente, a todos os agostinianos espalhados pelos cantos do mundo, a solenidade de nosso pai Santo Agostinho.

Celebramos o santo, o sábio, o irmão, o teólogo, o filósofo, o filho de tantas lágrimas, o convertido, o amigo, o doutor, o homem da palavra, o homem de palavra, o homem-palavra, aquele do coração de carne, aquele do coração inquieto...

Mil e seiscentos anos depois, sua experiência de vida, bem como seu legado existencial, espiritual e intelectual permanecem como faróis na busca de respostas às grandes questões, ou melhor, às inquietações dos homens e mulheres de todos os tempos. Compartilhamos sua inquietude, sua amizade, sua herança espiritual: o carisma que nos une e nos inspira.

Por nosso intermédio, a Ordem serve à Igreja e às comunidades onde vivemos: uns por opção, pois o escolhemos e fomos aceitos; outros por convite que aceitaram. De qualquer maneira, somos, de fato, as testemunhas do espírito de Agostinho para nosso tempo: todos, mediante um chamado e uma resposta pessoal, somos os “agostinhos” dos tempos atuais...

Em SJRP, atualmente, a presença do carisma se concretiza pela vida de uma comunidade de 3 religiosos, com seu prior, que é o Pe. Eliseo, e as comunidades paroquial e educativa: paróquia Santa Rita e Colégio Agostiniano São José.

Mas, o que é o carisma e como podemos experimentá-lo, vivenciá-lo?

Os carismas, diz o concílio Vaticano II, são “graças especiais” (concedidas por Deus como “carisma”), mediante as quais os fiéis ficam “preparados e dispostos a assumir diversas tarefas ou ministérios que contribuem para renovar e construir mais e mais a Igreja” e ainda a falar do carisma das Ordens religiosas, acrescenta: “O próprio carisma dos Fundadores revela-se como uma experiência do Espírito, transmitida aos próprios discípulos, a fim de ser por eles vivida, conservada e aprofundada” (Evang. nunt. 11)

Quais são os elementos próprios do nosso carisma? Quais os principais dons de Deus que se fazem presentes em Agostinho e continuam em nós?

O carisma fundacional da Ordem Agostiniana tem seu foco na dimensão comunitária: fraternidade-comunhão onde juntos se busca a verdade que se traduz na mesma experiência da primeira comunidade cristã: “eram um só coração e uma só alma para Deus” (At 4,32), ou seja, a comunidade como estrutura e a comunhão como experiência. O dom da comunhão que não significa ausência de diferenças, nem de conflitos, mas “unidade no essencial, liberdade na dúvida, caridade sempre!” (Santo Agostinho)

Na evangelização e educação, nosso carisma nos chama a viver integrados  interiormente, estabelecendo um diálogo entre a fé e a razão, entre mente e coração. Nosso carisma nos chama a viver unidos espiritualmente para buscar a Verdade. União simbolizada no escudo da Ordem.

Mas, como chegar ao centro das pessoas, dos alunos, das pessoas da comunidade? Como tocar o coração e a mente?

Nossas constituições nos mostram que o caminho se chama “interioridade”; é o caminho da espiritualidade agostiniana. A espiritualidade é uma necessidade para nossa realização como pessoas.

Nossa espiritualidade se realiza quando fazemos a experiência que nos transcende. Quando nossa forma de viver toca a mente e o coração das pessoas descobrimos e experimentamos o que somos e para que existimos, isto é, realizamos nossa missão e nossa vocação. Sintetizado de forma magnífica quando a ordem nos recorda: quem educa com amor ensina a amar.

É o amor que move e potencializa o conhecimento, e este começa e se desenvolve, culminando com e no amor, mediante pedagogia própria: “ensinar a verdade com caridade”[1].

Entretanto, “mesmo que a todos devamos a mesma caridade, nem a todos devemos dar o mesmo medicamento. A caridade fortalece uns, porém se faz fraca com outros; procura edificar alguns, enquanto estremece para não ofender outros; com estes é suave, com aqueles é severa; de ninguém é inimiga, contudo, de todos, é mãe.” [2] 

Transcender os acontecimentos diários revela-se como uma experiência do Espírito. Nesse sentido, a educação, “uma das missões próprias da Ordem”, é uma autêntica experiência para se vivenciar a espiritualidade do carisma.

O que e quem inspira nossas vidas quando buscamos o sentido das coisas, sentimos o coração inquieto?

Quando tocamos o coração e a mente de quem se educa conosco? Como nos sentimos quando ajudamos os outros na compreensão de uma situação?

Quando a turma de que somos catequistas, professores ou tutores supera as divisões e experimenta a amizade e a união?

Como nos sentimos quando compartilhamos os bens e praticamos a solidaridade?

Como nos sentimos quando nossa comunidade está dividida? Como é para nós a alegria de uma reconciliação?

Como nos sentimos quando conseguimos ajudar outra pessoa a se encontrar com Deus e experimentar e dizer com saudade: “Tarde te amei, beleza tão antiga e tão nova, tarde te amei”.

O papa João Paulo II, falando numa ocasião com o Capítulo Geral da Ordem, nos deixou um feliz convite a todos os agostinianos: “sede os pedagogos da interioridade para o mundo de hoje”.

Para isso nossas vidas precisam ser modelos, não de perfeição, mas dos valores agostinianos encarnados nos nossos ambientes, buscando pelo caminho da interioridade, o que dá sentido ao nosso coração inquieto.

Deus nos presenteia com o carisma agostiniano para que nos realizemos e ajudemos a descobrir a vocação de nossos alunos e de todos os que nos rodeiam. 

Sejamos (os agostinianos) os pedagogos da interioridade e da comunhão para o mundo de hoje!
   

Pe. José Luis Arias, OSA
Diretor Geral